LUTANDO POR JUSTIÇA!
PORTANTO, DO LUTO À LUTA!
A UM AUSENTE 
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Carlos Drummond de Andrade
FUNERAL BLUES
Parem os relógios 
Cortem o telefone 
Impeçam o cão de latir 
Silenciem os pianos e com um toque de tambor tragam o caixão 
Venham os pranteadores 
Voem em círculos os aviões escrevendo no céu a mensagem: "Ele está morto" 
Ponham laços nos pescoços brancos das pombas 
Usem os policiais luvas pretas de algodão. 
Ele era meu norte, meu sul, meu leste e oeste. 
Minha semana de trabalho e meu domingo 
Meu meio-dia, minha meia-noite. 
Minha conversa, minha canção. 
Pensei que o amor fosse eterno, enganei-me. 
As estrelas são indesejadas agora, dispensem todas. 
Embrulhem a lua e desmantelem o sol 
Despejem o oceano e varram o bosque 
Pois nada mais agora pode servir.
W.H. Auden