quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O QUE FAZER PARA HOMENAGEAR AOS QUE NOS FORAM "TIRADOS"?

LUTANDO POR JUSTIÇA!
PORTANTO, DO LUTO À LUTA!




A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade



FUNERAL BLUES

Parem os relógios

Cortem o telefone
Impeçam o cão de latir
Silenciem os pianos e com um toque de tambor tragam o caixão
Venham os pranteadores
Voem em círculos os aviões escrevendo no céu a mensagem: "Ele está morto"

Ponham laços nos pescoços brancos das pombas
Usem os policiais luvas pretas de algodão.

Ele era meu norte, meu sul, meu leste e oeste.
Minha semana de trabalho e meu domingo
Meu meio-dia, minha meia-noite.
Minha conversa, minha canção.

Pensei que o amor fosse eterno, enganei-me.
As estrelas são indesejadas agora, dispensem todas.
Embrulhem a lua e desmantelem o sol
Despejem o oceano e varram o bosque
Pois nada mais agora pode servir.

W.H. Auden

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

História do CRAVI

O CRAVI – Centro de Referência e Apoio à Vítima é um programa da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania em parceria com a Secretaria Especial de Direitos Humanos. Criado em 1998, atende vítimas diretas e indiretas de violência e tem como missão ser referência para ações e políticas públicas que visem superar os ciclos de violência e promover reconhecimento, cidadania e acesso aos direitos de familiares de vítimas de crimes contra a vida, vítimas de violência doméstica e sexual e outros crimes violentos.
A violência pode ser entendida como um fenômeno social, produto de conflitos e desigualdades em diversos âmbitos – sociais, econômicos, familiares. Em relação a um fenômeno tão complexo todos os segmentos da sociedade tem a responsabilidade de pensar o que pode ser feito para promover a diminuição e a prevenção da violência.
O CRAVI conta com um trabalho constante de reflexão para a construção de metodologias orientadoras do trabalho cotidiano, de forma a produzir conhecimentos que possam subsidiar outros serviços e políticas públicas de atendimento a vítimas.
Assim, o Cravi cumpre sua função social e política e trabalha com parcerias – instituições públicas e privadas, universidades e estudiosos da área – para compartilhar os saberes e dúvidas em relação a esta temática, no sentido de promover reflexões e ações que efetivem os Direitos Humanos e o exercício de cidadania.
Como instituição que promove os Direitos Humanos o CRAVI considera o fato violento em sua dimensão pública, articulando à política, escutando e legitimando falas que, normalmente são relegadas a espaços privados. Com isto pretende-se que as vítimas acessem seus direitos no sentido de exercer sua cidadania e protagonismo social e que suas falas tenham valor de testemunho.
Diante de inúmeras violações de direitos e o fato disso ser uma constante nas falas dos cidadãos, o CRAVI propõe mais um dispositivo que busca pensar e repensar o lugar ocupado socialmente pelas vítimas, considerando o ocorrido como ato violento que afeta laços e contratos sociais de forma a dificultar ou até mesmo inviabilizar o exercício da cidadania e o protagonismo social. A esse dispositivo damos o nome de Grupo de Cidadania.
Os objetivos do Grupo de Cidadania são:
- oferecer espaço de atendimento aos cidadãos baseado na promoção dos Direitos Humanos e Cidadania,
- estimular a vivência do protagonismo social,
- promover questionamentos sobre as formas de constituição dos laços sociais,
- problematizar o acesso às instituições e/ou redes de apoio e a circulação no próprio território ou comunidade.