domingo, 25 de outubro de 2009

Meus filhos minha vida

Nunca me passou pela cabeça ter um filho assassinado por policiais. Pela polícia que eu os ensinei a respeitar e acreditar, dizia-lhes que ela foi criada para nos proteger. Hoje vejo que os ensinei errado, ou não? Quero acreditar na justiça pois onde iremos parar se não tivermos justiça. Tudo aconteceu naquele Maio sangrento, mais exatamente no dia 16/05/2006, terça- feira, 2 dias depois do dia das mães, às 21:50 hs, nesse dia e hora morria metade da minha vida. Tive 2 filhos e sempre disse a eles: Vocês são a minha vida! Vivo em função de vocês, trabalho por vocês, para vê-los felizes e contentes. Fomos muito felizes nós três, todos os dias eu os abraçava, beijava e dizia: Amo vocês!

Me separei do pai deles quando eles ainda era pequenos, pois ele era viciado em drogas e bebida e me tratava muito mal. Me separei pensando no bem dos meus filhos.
Logo comecei a trabalhar e fomos muito felizes até o dia 16/05/2006. Quando eu estava terminando de fazer a janta, olhei para o relógio e pensei: O Murilo está chegando. O telefone tocou, era minha amiga Maria me dando a pior notícia que já recebi na minha vida: “Mataram o Pêlo, Angela venha correndo para cá o Pêlo está morto Angela (Pêlo era o apelido dele).
















Corremos eu e o Almeida (meu atual companheiro) para a Av. Ramiz Galvão com a Av. Sanatório, em frente ao lava-rápido em que ele (meu filho) trabalhava. Tinha uma viatura policial, poças de sangue e até pedaços de cérebro no chão. Que vim saber depois que poderiam ser do Murilo (meu filho assassinado), pois atiraram em sua cabeça. Ele morreu na hora.
Minha amiga Maria disse que os garotos estavam em uma turma, de 10 a 12 pessoas, sentados na calçada do lava-rápido cantando quando homens em motos passaram atirando neles. Conseguiram matar três: Murilo (meu filho), Marcelo (amigo) e Felipe (amigo). Os outros conseguiram fugir.
Fomos correndo para o Hospital e pronto socorro São Luis Gonzaga(onde segundo os policiais ali presentes, os corpos seriam levados), aí caiu a ficha, e eu também. O Danilo (meu outro filho) e o Almeida entraram para reconhecer o corpo, confirmar o que não queríamos, era nosso Murilo que estava ali, sem vida, inerte, parado, com o seu corpo já frio, como disse seu irmão Danilo, pois perdeu muito sangue, foram uns 7 tiros.
Eu, Angela, sua mãe e o Danilo seu irmão estamos confiantes de que será feita a justiça para que possamos continuar sobrevivendo e acreditando em alguma coisa nesse mundo.
Tiraram um pedaço de nós, sangue do nosso sangue, carne da minha carne.
Meu Filho!
Quando podia tocá-lo, cobria-o com cobertores.
Hoje não posso mais tocá-lo, então cubro-o com minhas orações.
Esse texto ninguém iria ler se eu não tivesse encontrado apoio no Cravi. Porque no Cravi encontrei pessoas que ajudaram a me levantar, me ajudaram a procurar por justiça, encontrei também pessoas que passaram pelo que eu passei.
É nesse grupo que nos apoiamos umas nas outras para continuarmos a nossa luta no nosso luto eterno.